
o espaço em branco que tinha para te escrever era pequeno pai, não cabia lá mais nada escrito. se pudesse ou se tivesse tido coragem tinha escrito "nunca morras, pai" depois acrescentava um desenho para contrastar com os teus olhos a chorar. tenho a certeza que ias chorar como choras quando discutimos, quando dizemos o que queremos e o que não queremos também, quando falamos nas familias, ou no tempo que passa, ou na tua infância, ou na minha. se tivesse tido ainda mais espaço tinha escrito "eu amo-te, pai" e fazia outro desenho, tu comigo às cavalitas na feira popular, e tu choravas outra vez. tu estás sempre a chorar e a esconder as lágrimas mas eu sei que choras e que tentas esconder. desculpa pai, não sou a melhor filha do mundo mas quero muito ser a melhor que pudesses ter, desculpa pai, não és o monstro que pintei.